A Casa Branca anunciou uma proposta polêmica: os Estados Unidos poderiam assumir o controle das usinas nucleares da Ucrânia, sob a justificativa de oferecer maior proteção a essa infraestrutura estratégica. A ideia, apresentada por Donald Trump ao presidente Volodymyr Zelensky, enfrenta obstáculos legais e desperta desconfiança, especialmente porque a legislação ucraniana proíbe a privatização dessas instalações.
Em uma declaração oficial, a Casa Branca afirmou que o envolvimento americano na administração das usinas traria benefícios energéticos e estratégicos para a Ucrânia. Zelensky, no entanto, rejeitou a proposta, reforçando que as usinas pertencem ao Estado ucraniano e que a questão não foi abordada diretamente na ligação com Trump. O único complexo discutido na conversa teria sido a usina de Zaporizhzhia, atualmente sob ocupação russa.
As usinas nucleares da Ucrânia são essenciais para a geração de eletricidade no país, fornecendo até dois terços da energia consumida. Durante a guerra, Moscou atacou usinas térmicas e hidrelétricas, mas evitou atingir instalações nucleares, o que poderia desencadear um desastre radiológico.
Com o objetivo de reduzir sua dependência energética, Kiev já havia firmado um acordo com a empresa americana Westinghouse para a construção de cinco novos reatores. Após o início da guerra, o plano foi expandido para nove reatores, consolidando a parceria entre os dois países. A Westinghouse tem um interesse estratégico em garantir a exclusividade desse mercado, especialmente porque antes da guerra a empresa russa Rosatom dominava o setor nuclear da Ucrânia.
A usina de Zaporizhzhia é um ponto de tensão: capturada pelos russos em 2022, deixou de fornecer eletricidade à rede ucraniana. No entanto, antes da ocupação, utilizava tecnologia e combustível da Westinghouse, o que levanta preocupações sobre o possível uso indevido de propriedade intelectual americana. Em 2023, o Departamento de Energia dos EUA alertou a Rosatom de que poderia enfrentar processos caso utilizasse essa tecnologia sem autorização.
Além disso, autoridades ucranianas destacaram que o interesse dos EUA em minerais estratégicos da Ucrânia está diretamente ligado à necessidade de garantir energia suficiente para a mineração e processamento desses recursos. Isso coloca a usina de Zaporizhzhia no centro das negociações, já que sua recuperação seria crucial para a viabilidade de tais operações.
Apesar do interesse americano, a privatização das usinas nucleares é proibida pela lei ucraniana. Alterar essa legislação seria politicamente sensível, já que muitos setores estratégicos do país continuam estatais.
A ideia de permitir que os EUA se tornem proprietários de usinas nucleares ucranianas enfrenta forte resistência interna. Victoria Voytsitska, ex-legisladora e especialista em energia, afirmou que a proposta enfrentaria oposição em todo o espectro político do país.
Outro obstáculo é a situação crítica da usina de Zaporizhzhia. A instalação está degradada após três anos de guerra e exigiria pelo menos dois anos e meio de reparos para voltar a operar plenamente. Além disso, os reatores inativos ainda precisam de energia e água de resfriamento, aumentando os riscos de acidentes nucleares.
Zelensky classificou as discussões com Trump como "passos positivos", mas ressaltou que não há garantias de que um acordo será alcançado rapidamente. Com desafios operacionais, obstáculos políticos e interesses comerciais em jogo, a possível entrada dos EUA no setor nuclear ucraniano ainda está longe de se concretizar.