O governo Trump está preparando uma mudança radical na maneira como os Estados Unidos distribuem bilhões de dólares em ajuda externa. Segundo um memorando interno obtido pela Reuters, a proposta defende cortes significativos em programas considerados ineficazes e um redirecionamento de recursos para áreas mais estratégicas e alinhadas aos interesses geopolíticos americanos.
A iniciativa faz parte de um amplo esforço de Trump, em parceria com Elon Musk, para reduzir o tamanho do governo federal. Ambos argumentam que o dinheiro dos contribuintes tem sido desperdiçado em causas que não trazem benefícios diretos para os EUA. Logo no primeiro dia de mandato, Trump ordenou uma pausa de 90 dias em toda a ajuda externa, interrompendo repasses da Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (USAID). Essa decisão colocou em risco a entrega de alimentos e assistência médica, desestabilizando operações humanitárias ao redor do mundo.
Além disso, a própria USAID sofreu um desmonte sem precedentes, com 80% de suas bolsas encerradas e um grande número de funcionários afastados ou demitidos.
O memorando será enviado ao Secretário de Estado Marco Rubio para análise e argumenta que a estrutura atual da ajuda externa americana é muito ampla, cara e ineficaz na redução da dependência de alguns países. A proposta sugere que o financiamento seja redirecionado para áreas mais estratégicas, com um foco mais restrito e eficiente.
Uma das mudanças mais drásticas é a proposta de substituir a USAID por uma nova agência chamada "Agência dos EUA para Assistência Humanitária Internacional", que ficaria sob o comando do Departamento de Estado e teria um mandato limitado a assistência humanitária, resposta a desastres, saúde global e segurança alimentar. Programas ligados à promoção da democracia, liberdade religiosa e empoderamento feminino seriam transferidos diretamente para o Departamento de Estado.
"Estamos comprometidos em implementar os objetivos de política externa do presidente Trump e do secretário Rubio da forma mais inovadora, ágil e focada possível", disse um porta-voz do Departamento de Estado ao ser questionado sobre o memorando.
A proposta, no entanto, enfrentou um obstáculo na Justiça. Na terça-feira, um juiz federal bloqueou a tentativa de Musk e do Departamento de Eficiência Governamental de fechar a USAID, alegando que a decisão pode violar a Constituição dos EUA. Ainda não está claro como esse bloqueio afetará a agência ou se funcionários demitidos serão reintegrados.
Enquanto isso, os novos líderes da USAID já estão traçando os próximos passos para a transição. Em um e-mail interno enviado na quarta-feira, a gestão destacou que as prioridades agora são administrar os 1.000 programas humanitários ainda ativos, garantir a segurança e estabilidade dos funcionários e trabalhar com o Congresso e Marco Rubio para integrar a USAID ao Departamento de Estado.
O memorando foi assinado por Kenneth Jackson, nomeado esta semana como diretor financeiro da USAID, e Jeremy Lewin, novo diretor de operações e responsável pela área de políticas da agência. Lewin também assumiu recentemente um cargo no Departamento de Eficiência Governamental.
A reformulação da ajuda externa proposta pelo governo Trump promete gerar debates intensos no Congresso e entre organizações humanitárias internacionais, enquanto os EUA reavaliam seu papel nas ações de assistência global.