Enquanto China e Estados Unidos se enfrentam em uma nova rodada de tarifas comerciais, o cenário econômico global segue incerto. A tensão entre as duas maiores economias do mundo pode resultar tanto em um acordo quanto em uma escalada da guerra comercial, o que tem levado investidores estrangeiros a se afastarem do mercado acionário chinês.
O índice de ações da China voltou a operar após um feriado prolongado, registrando uma reação moderada às novas tarifas impostas pelos EUA. Apesar da taxa de 10% aplicada na última terça-feira ser inferior às ameaças iniciais do presidente Donald Trump, e da retaliação chinesa ter sido considerada branda, analistas apontam que o impacto nos mercados foi contido. Esse comportamento sugere que os investidores estão adotando uma postura mais cautelosa, diferente da reação mais intensa observada no primeiro mandato de Trump.
Na quarta-feira, informações desencontradas sobre um possível encontro entre Trump e o presidente chinês, Xi Jinping, adicionaram mais incerteza ao cenário. Além disso, a decisão repentina dos EUA de restringir a aceitação de pacotes postais vindos da China surpreendeu empresas de comércio eletrônico e reforçou a necessidade de prudência por parte dos investidores.
A preocupação com a economia chinesa já vinha crescendo, principalmente devido à crise prolongada no setor imobiliário, pressões deflacionárias e o ritmo abaixo do esperado das medidas de estímulo prometidas por Pequim.
Como reflexo desse pessimismo, investidores estrangeiros retiraram quase US$ 12 bilhões de fundos focados na China nos últimos três meses, praticamente anulando a entrada de US$ 13 bilhões registrada em outubro, segundo dados da LSEG Lipper. Esse movimento sinaliza que, por enquanto, não há um fluxo contínuo de capital estrangeiro para o país.
O comportamento dos preços no mercado financeiro indica que os investidores estão preparados para o impacto das tensões comerciais, mas sem disposição para fazer grandes apostas sobre o desfecho da disputa. Diferente do que muitos previam, o yuan — moeda chinesa — sofreu apenas uma leve desvalorização na quarta-feira, mesmo com Pequim ampliando sua banda de negociação. Esse movimento sugere que as autoridades chinesas pretendem manter a moeda relativamente estável no curto prazo.
As ações blue-chip chinesas caíram 0,6% na segunda-feira, acumulando uma desvalorização de 3,6% no ano, enquanto o mercado global apresentou uma alta de 3% no mesmo período. Já o índice Hang Seng, de Hong Kong, registrou uma recuperação impulsionada por ganhos especulativos em ações de setores específicos, como o de veículos elétricos, mas sem grande volume de negociação.
Para muitos investidores, a bolsa chinesa ainda apresenta oportunidades, especialmente pelo seu baixo índice preço/lucro — em torno de 11, comparado aos 22 do S&P 500. No entanto, a preocupação com novas tarifas e o risco de mudanças inesperadas nas relações comerciais entre China e EUA fazem com que poucos estejam dispostos a assumir grandes posições no mercado chinês.
Em um cenário de incertezas, a cautela segue como a principal estratégia.