A decisão do primeiro-ministro canadense, Mark Carney, de antecipar as eleições para 28 de abril pode enfraquecer sua capacidade de reagir caso os Estados Unidos apliquem novas tarifas sobre produtos canadenses. Com o início da campanha, o governo entra em um período de convenção interina, podendo lidar apenas com assuntos rotineiros e evitando grandes decisões políticas. Enquanto os ministros permanecem no cargo, assessores foram proibidos de usar e-mails e celulares de trabalho desde o anúncio da eleição no domingo.
A incerteza cresce com a possibilidade de Donald Trump avançar com tarifas adicionais em 2 de abril, além das já impostas em março sobre as importações canadenses de aço e alumínio (25%). Especialistas afirmam que, embora o governo possa manter as contramedidas prometidas, medidas mais agressivas podem ser complicadas. Questionada sobre a possibilidade de retaliação, a ministra das Relações Exteriores, Melanie Joly, garantiu que o Canadá seguirá defendendo seus interesses nacionais.
No entanto, qualquer ação de Carney contra as tarifas dos EUA pode ser vista como uma estratégia para fortalecer sua campanha, gerando críticas da oposição. Ele justificou a antecipação das eleições afirmando que precisava de um forte mandato para negociar com Trump e administrar a economia.
A história mostra que esse tipo de movimentação política pode ser arriscado. Em 2015, o então primeiro-ministro Stephen Harper anunciou a entrada do Canadá em um pacto comercial durante a campanha e foi criticado pelo opositor Thomas Mulcair, que o acusou de assinar um "acordo secreto" no meio da eleição. Harper acabou derrotado. Já em Ontário, o premiê Doug Ford foi criticado por viajar a Washington para pressionar contra tarifas durante uma campanha, mas conseguiu ser reeleito.
Pesquisas recentes mostram liberais e conservadores praticamente empatados, com vantagem para os liberais, que concentram apoio na metade leste do país, onde há mais cadeiras em disputa. Até agora, os conservadores não comentaram se temem que os liberais possam violar a convenção interina.