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Ações da Nvidia Caem com Novas Regras dos EUA: Entenda o Impacto nas Exportações de Chips de IA
O governo Biden anunciou novas restrições para a exportação de chips de inteligência artificial, mirando países como a China. A Nvidia e o mercado de semicondutores já sentem o impacto — veja como isso pode afetar o setor e o futuro da tecnologia.
13/01/2025 15h34 Atualizada há 7 dias
Por: Redação

As novas restrições do governo Biden sobre a exportação de chips de inteligência artificial reacendem um debate crucial: como os Estados Unidos devem manter sua liderança tecnológica sem prejudicar suas próprias empresas? As recentes medidas impostas à Nvidia e outras fabricantes de semicondutores têm sido recebidas com críticas duras, tanto pela indústria quanto pelo mercado financeiro. Para a Nvidia, a questão não é apenas econômica, mas política — e a forma como essa política está sendo conduzida preocupa os gigantes do setor.

Ned Finkle, vice-presidente de assuntos governamentais da Nvidia, não poupou críticas. Em um comunicado oficial, ele acusou o governo de ter redigido a regra “em segredo e sem revisão legislativa adequada”. Segundo Finkle, a tentativa de controlar o fluxo de tecnologia para países considerados adversários, como a China, pode acabar minando a própria inovação americana. "Essa regra ameaça desperdiçar a vantagem tecnológica duramente conquistada pelos Estados Unidos", disse ele.

Mas por que uma empresa como a Nvidia, que lidera o mercado de GPUs para inteligência artificial, está tão preocupada com as novas regras? E, mais importante, até que ponto essa medida pode impactar o futuro da IA?

O Controle dos Chips: Estratégia ou Protecionismo?

A nova regra limita a exportação de grandes quantidades de GPUs para 120 países, com exceção de cerca de 18 aliados estratégicos, como Reino Unido, Holanda e Taiwan. Em resumo, pedidos que ultrapassem 50.000 GPUs precisarão de uma licença especial, o que afeta diretamente os negócios da Nvidia, uma das maiores fornecedoras globais desse tipo de tecnologia.

Embora o governo Biden argumente que as restrições visam proteger a segurança nacional, a Nvidia e outras empresas do setor enxergam a medida como um obstáculo desnecessário à competitividade americana. Em sua declaração, Finkle fez um apelo por um retorno às políticas do governo Trump, que, segundo ele, eram mais favoráveis à inovação e ao compartilhamento de tecnologia.

"Como o primeiro governo Trump demonstrou, a América vence por meio da inovação, da competição e do compartilhamento de nossas tecnologias com o mundo — não recuando atrás de um muro de exagero do governo", afirmou Finkle.

Esse posicionamento ecoa uma preocupação maior: ao tentar limitar o acesso da China a tecnologias de ponta, os EUA podem acabar incentivando o país asiático a acelerar seu processo de independência tecnológica. E, nesse cenário, quem perde é o próprio Ocidente.

As Reações do Mercado: Um Sinal de Alerta

As ações da Nvidia já sentem o impacto das novas restrições. Na última semana, a queda acumulada ultrapassou 9%, estendendo o declínio iniciado antes mesmo do anúncio oficial. Outros grandes nomes do setor de semicondutores, como AMD e Qualcomm, também registraram quedas, enquanto o índice PHLX Semiconductor (^SOX) sofreu um recuo significativo na segunda-feira.

O analista do Bank of America, Vivek Arya, emitiu uma nota aos investidores reiterando sua recomendação de compra das ações da Nvidia, mas destacou que a nova regra “turva as águas” para a empresa. Atif Malik, analista do Citi, apontou que o limite de 50.000 GPUs por exportação traz riscos significativos para as vendas de data centers, que representam a maior parte da receita da Nvidia.

Além disso, o HSBC reduziu o preço-alvo das ações da Nvidia, de US$ 195 para US$ 185, citando preocupações com a cadeia de suprimentos. A Blackwell, uma das principais fornecedoras da Nvidia, também enfrenta dificuldades, o que pode gerar um efeito cascata em toda a indústria.

Indústria em Alerta: Uma Decisão Precipitada?

A Associação da Indústria de Semicondutores (SIA) também criticou duramente a medida. Em uma nota oficial, a entidade expressou “profunda decepção” com o fato de uma mudança tão significativa ter sido feita poucos dias antes da transição presidencial nos Estados Unidos e sem a participação adequada da indústria.

As empresas terão um período de 120 dias para enviar comentários e sugestões sobre a regra, prazo mais longo do que o habitual. No entanto, a Bloomberg apontou que essa janela se dá, em parte, para dar tempo ao novo governo revisar a medida antes de sua implementação definitiva, prevista para ocorrer em até um ano.

Apesar disso, a indústria teme que as restrições se mantenham — e, com isso, as empresas americanas percam terreno em um mercado global cada vez mais competitivo.

O Que Está em Jogo?

As novas regras representam um desafio direto à Nvidia, mas o impacto vai além. Elas são parte de um esforço mais amplo dos Estados Unidos para conter o avanço tecnológico da China em áreas estratégicas, como inteligência artificial e computação de alto desempenho. No entanto, esse movimento traz riscos significativos:

Risco para a inovação: Limitar o acesso a mercados internacionais pode reduzir a capacidade das empresas americanas de reinvestir em pesquisa e desenvolvimento.

Aceleração da independência chinesa: As restrições podem levar a China a dobrar seus esforços para desenvolver sua própria indústria de semicondutores, o que reduziria a dependência das tecnologias ocidentais.

Efeito cascata no setor: Empresas que dependem da venda de chips de IA, como a Nvidia, podem enfrentar dificuldades financeiras, o que impactaria toda a cadeia de suprimentos.

A Nova Guerra Fria Tecnológica

O controle de chips de inteligência artificial se tornou o novo front da disputa geopolítica entre EUA e China. A decisão do governo Biden reforça a ideia de que os semicondutores são hoje tão estratégicos quanto o petróleo foi no século XX. Mas a pergunta que fica é: os Estados Unidos estão fortalecendo sua posição ou colocando em risco sua própria liderança tecnológica?

Para a Nvidia, a resposta é clara: a inovação prospera na competição, não em políticas protecionistas. Mas, para o governo Biden, o preço da liberdade tecnológica pode ser alto demais para se pagar.

O futuro da IA está em jogo — e a batalha já começou.