A escalada da dívida pública dos Estados Unidos — que levou à perda do selo “triple A” pela Moody’s — tem reflexos que ultrapassam as fronteiras americanas. Em novo relatório publicado nesta terça-feira (20), a agência alerta para os impactos profundos das tarifas comerciais impostas pelo governo Trump sobre a estabilidade econômica de países emergentes.
Governos com forte dependência de exportações, reservas cambiais limitadas ou contas públicas frágeis estão mais vulneráveis. Empresas dos setores automotivo, químico e industrial que exportam diretamente para os EUA enfrentam os maiores riscos. Mas os efeitos colaterais vão além: desaceleração do crescimento, desvalorização das moedas locais, queda das commodities e fuga de capital aumentam a pressão sobre toda a estrutura de crédito desses países.
Setores como o portuário, pela ligação direta com o comércio global, e o bancário, pela deterioração da qualidade de crédito e exposição à volatilidade cambial, estão no centro da turbulência. Se bancos centrais optarem por cortes de juros para conter a desaceleração, a rentabilidade do setor bancário também será afetada.
A Moody’s mapeia três canais principais de transmissão:
Comércio Direto: Tarifas pressionam receitas e margens das empresas exportadoras.
Macroeconomia: Incerteza afeta consumo, investimentos e PIB.
Mercados Financeiros: Volatilidade reduz liquidez e eleva risco de calotes.
O México aparece como o país latino-americano mais exposto ao tarifaço americano, mas outras economias da região — como Brasil, Chile e Argentina — também sentem os efeitos por meio da China, seu maior parceiro comercial. Brasil e Argentina, por exemplo, exportam aço e alumínio para os EUA, que estão sujeitos a tarifas de 25%.
A Moody’s conclui que uma reversão completa das tarifas é improvável. A incerteza em torno da política comercial dos EUA deve continuar pressionando os mercados emergentes e exigirá atenção redobrada de investidores, formuladores de política e emissores de dívida.