Internacional Mercado Financeiro
Reino Unido supera China em Treasuries dos EUA pela primeira vez em 25 anos
China reduz exposição à dívida dos EUA e acelera diversificação de reservas.
17/05/2025 17h25 Atualizada há 3 semanas
Por: Vitor Ferreira

Pela primeira vez desde 2000, a China perdeu a vice-liderança entre os maiores detentores estrangeiros de títulos do Tesouro dos EUA. Em março, as posições chinesas caíram para US$ 765 bilhões, enquanto o Reino Unido avançou para US$ 779 bilhões, segundo dados oficiais. A diferença de quase US$ 30 bilhões em apenas um mês acende sinais de mudança estrutural nos fluxos globais.

Desde 2011, quando atingiu mais de US$ 1,3 trilhão em Treasuries, a China vem reduzindo gradualmente sua exposição e diversificando suas reservas, priorizando ativos como ouro e títulos de agências americanas. Para Alicia García-Herrero, economista-chefe da Natixis, essa redução contínua “é um alerta que os EUA já deveriam ter levado a sério”.

O movimento chinês coincide com a decisão da Moody’s de rebaixar a nota de crédito dos EUA, unindo-se à Fitch e à S&P. A agência cita o aumento da dívida pública e do déficit como fatores críticos. Esse contexto fiscal fragilizado, somado à saída gradual de grandes detentores estrangeiros, eleva o risco de alta nos juros e pressiona o refinanciamento da dívida americana.

O aumento das posições britânicas não reflete reservas próprias, mas sim o papel de Londres como centro logístico para fundos de hedge, seguradoras e bancos internacionais. Muitos investidores utilizam estratégias de arbitragem com Treasuries e derivativos, e a infraestrutura londrina oferece o suporte ideal para essas operações.

Segundo Brad Setser, ex-Tesouro dos EUA, esse aumento reflete o crescimento das posições de bancos globais e fundos que operam via custodiantes britânicos, mais do que uma decisão estratégica do governo do Reino Unido.

Parte dos ativos chineses pode estar alocada por meio de custodians europeus, como Euroclear (Bélgica) e Clearstream (Luxemburgo), o que dificulta a leitura real da exposição chinesa. Em paralelo, aumentou a fatia chinesa em Treasuries de curto prazo — ativos mais líquidos e estratégicos em cenários de estresse.

Setser alerta ainda que os dados vão até março, mas mudanças mais recentes, motivadas pela escalada da guerra comercial liderada por Trump, ainda não apareceram nos números.

A redução silenciosa da China nos Treasuries e o rebaixamento da nota americana indicam um redesenho dos fluxos de capitais internacionais. Isso pode impactar diretamente os juros globais, o apetite por risco e o custo da dívida nos Estados Unidos.

Para o investidor que acompanha os desdobramentos geopolíticos, o recado é claro: o eixo financeiro está se reposicionando — e com isso, novas oportunidades e riscos emergem no cenário global.