Internacional Russia
Acordo do Mar Negro pode ter impacto limitado nas exportações russas no curto prazo
Especialistas apontam que restrições internas e estratégias alternativas já sustentam o comércio agrícola da Rússia.
26/03/2025 15h24 Atualizada há 3 semanas
Por: Redação

O recente acordo para facilitar o acesso da Rússia aos mercados agrícolas internacionais, comemorado tanto por Washington quanto por Moscou como um avanço para a segurança alimentar global, pode ter pouco efeito imediato no comércio do país, segundo analistas e fontes do setor.

Se confirmado, o acordo mediado pelos Estados Unidos pode, no entanto, impulsionar as ambições estratégicas do presidente Vladimir Putin de consolidar a Rússia como uma superpotência agrícola e aumentar sua receita de exportação. O pacto vem na esteira de negociações paralelas que levaram Ucrânia e Rússia a reduzirem ataques marítimos no Mar Negro e interromperem ofensivas contra infraestruturas energéticas. Como parte do acordo, Washington aceitou flexibilizar algumas sanções ocidentais contra Moscou.

Kirill Dmitriev, chefe do fundo soberano russo e enviado especial de Putin para cooperação econômica internacional, elogiou a medida, afirmando que ela garantirá suprimentos de grãos para mais de 100 milhões de pessoas adicionais. A ONU reforçou essa visão, descrevendo o acordo como uma contribuição crucial para a segurança alimentar global.

No entanto, especialistas do setor argumentam que as exportações russas de grãos e fertilizantes já atingiram níveis recordes mesmo durante a guerra, sem grandes impactos na infraestrutura logística. Os comerciantes agrícolas russos têm contornado as sanções ocidentais com relativa facilidade, especialmente em mercados considerados amigáveis pelo Kremlin.
Mais do que barreiras internacionais, as próprias restrições do governo russo têm sido um fator limitante para o setor agrícola. Buscando controlar a inflação acima de 10%, Moscou impôs cotas de exportação e aumentou tarifas, o que derrubou as expectativas de embarques de 55 milhões de toneladas na temporada passada para 40 milhões na safra 2024/25.

Apesar das restrições atuais, o Kremlin mantém planos ambiciosos de longo prazo, visando aumentar suas exportações agrícolas em 50% até 2030 e expandir sua presença em mercados da Ásia, África e América Latina. O setor agrícola se tornou a segunda maior fonte de receita da Rússia, atrás apenas do petróleo e gás que, por sua vez, enfrentam sanções mais severas e restrições impostas pela Europa.

A Rússia também busca remover sanções contra seus bancos, exportadores e companhias de navegação, o que poderia facilitar pagamentos e transações internacionais. Um dos principais pedidos do Kremlin é a reintegração do Rosselkhozbank ao sistema de pagamentos SWIFT, já que exportadores russos de grãos têm enfrentado dificuldades para receber pagamentos de bancos estrangeiros, mesmo em mercados tradicionais do Oriente Médio.

Com um horizonte ainda incerto, o impacto real do acordo dependerá de como e quando as medidas serão implementadas e de como o governo russo equilibrará suas ambições de expansão agrícola com a necessidade de manter a estabilidade econômica interna.